O que está deixando nossos adolescentes tão tristes e ansiosos?

User avatar placeholder

maio 21, 2025

Publicado em maio de 2025 na Scientific Reports (Nature), este estudo revela como a pressão escolar e os conflitos sociais ativam redes emocionais de sofrimento em adolescentes — e o que podemos fazer com empatia, evidência e ação

⏱ Tempo estimado de leitura: 15 minutos

Imagem ilustrativa gerada por IA


💬 Introdução: Quando a ficção acerta em cheio — e a ciência ajuda a entender

Se você assistiu à nova série da Netflix Adolescência, sabe: ela não tem filtros. Mostra o que muitos jovens vivem e poucos adultos enxergam. Tristeza que não passa. Ansiedade que aperta o peito. Medo de ser excluído. Dificuldade de dizer o que se sente.

Não é à toa que a série virou tema de conversas, reportagens, e desabafos nas redes sociais. Ela toca numa ferida aberta — e, talvez sem querer, cumpre um papel fundamental: dar visibilidade ao sofrimento emocional adolescente.

Mas enquanto a série nos emociona, a ciência pode ajudar a nomear, compreender e agir. Em maio de 2025, um estudo publicado na Scientific Reports (grupo Nature) analisou mais de mil adolescentes e revelou como experiências como pressão escolar, punições e conflitos sociais se conectam a sintomas profundos de ansiedade e depressão.

Este artigo é um convite: vamos olhar para o que a série escancarou — e deixar a ciência iluminar os caminhos possíveis. Porque emoção e evidência não se excluem. Se completam.


🧠 O que está acontecendo por dentro do adolescente?

O estudo analisou 1.083 adolescentes de 14 anos em média. Para entender a relação entre eventos negativos da vida e sintomas emocionais, os pesquisadores aplicaram uma metodologia moderna: a análise de redes de sintomas.

Essa abordagem não olha os sintomas isoladamente. Ela constrói um “mapa” das conexões emocionais — mostrando quais sentimentos puxam os outros, quais gatilhos acendem a rede, e quais pontos sustentam o sofrimento.


📊 Como foi feito o estudo

Foram usadas três escalas validadas internacionalmente:

  • ASLES — mede acontecimentos negativos recentes (como provas difíceis, punições, brigas ou perdas)
  • CES-D — avalia sintomas de depressão (tristeza persistente, desesperança, sensação de esforço constante)
  • SAS — mede sintomas de ansiedade (pânico, medo constante, tontura)

A análise gerou três redes:

  1. Uma entre eventos negativos e depressão
  2. Uma entre eventos negativos e ansiedade
  3. Uma rede integrada com todos os fatores

🔍 Onde está o centro da dor emocional

Os sintomas mais centrais foram:

Na depressão:

  • “Me sinto triste quase todo o tempo”
  • “Sinto que as pessoas não gostam de mim”
  • “Me esforço demais para fazer qualquer coisa”

Na ansiedade:

  • “Sinto pânico, sem saber por quê”
  • “Sinto medo constante”
  • “Tenho tontura ou sensação de desmaio”

Na rede integrada, dois sintomas dominaram:

  • Humor depressivo
  • Pânico

Ou seja: depressão e ansiedade estão interligadas. E muitos adolescentes não conseguem dizer “o que exatamente estão sentindo” — porque estão sentindo tudo, ao mesmo tempo.


Dois gatilhos que disparam tudo

O estudo identificou dois gatilhos principais:

  1. Pressão acadêmica: cobrança por notas, desempenho, provas e comparação
  2. Conflitos interpessoais: exclusões, brigas, rejeições, bullying

Esses fatores são como nós emocionais que puxam a rede de sofrimento. São situações aparentemente “comuns”, mas que se acumulam e criam um cenário de dor silenciosa — e cada vez mais comum.

Veja também: Estudo global com 300 especialistas em 45 países revela o que realmente importa na escolha de uma escola


🌀 Ansiedade e depressão: vidas emaranhadas

Outro achado importante do estudo: os sintomas de depressão e ansiedade não estão separados. Eles se misturam, se reforçam e se confundem.

Muitos adolescentes não sabem se estão tristes ou com medo — porque estão os dois. E isso exige uma escuta mais fina, mais cuidadosa. E um olhar que reconheça essa complexidade sem rotular.


💡 O que podemos fazer: três pilares do cuidado emocional

O estudo não aponta apenas o problema — ele sugere caminhos de cuidado:


🌱 1. Acolher sem julgar

Adolescentes que dizem “não aguento mais” não precisam de sermão. Precisam de escuta real.

O que ajuda:

  • Validar o que sentem (sem minimizar)
  • Estar presente, sem corrigir
  • Evitar frases como “isso é bobagem” ou “todo mundo passa por isso”

🛠 2. Atuar sobre os gatilhos

Se o problema começa na escola e nas relações, é aí que precisamos intervir.

O que ajuda:

  • Repensar como cobramos desempenho escolar
  • Criar ambientes escolares mais afetivos e seguros
  • Ensinar empatia, cooperação e escuta

🤝 3. Construir redes de apoio verdadeiras

Não é preciso um exército de especialistas. Um adulto confiável já muda tudo.

O que ajuda:

  • Espaços de escuta: na escola, em casa, com amigos
  • Professores preparados emocionalmente
  • Famílias presentes e conectadas

🧭 E como enfrentar de forma mais estruturada? Para além do acolhimento, uma estratégia real de prevenção

A ciência também aponta caminhos de prevenção duradoura e em escala:

  • Educação emocional no currículo escolar, com práticas regulares e não apenas “eventos pontuais”
  • Capacitação contínua de professores e equipes escolares, com foco em saúde mental e manejo de crises
  • Protocolos institucionais claros, com acolhimento sigiloso, articulação com profissionais da saúde e escuta protetiva
  • Participação dos adolescentes na criação de espaços seguros, ouvindo o que eles têm a dizer sobre o que machuca e o que ajuda
  • Campanhas públicas contra o estigma, mostrando que pedir ajuda é um ato de coragem, não de fraqueza

🧩 Por onde começar: pequenos passos com grande impacto

  • Dê nome ao que sente. Dizer “estou triste” ou “estou com medo” já alivia
  • Observe os gatilhos. O que aconteceu antes de se sentir assim?
  • Cuide do corpo. Dormir, comer, se mexer, respirar — o corpo sente tudo
  • Procure alguém confiável. Um professor, familiar, amigo, terapeuta. Você não precisa atravessar isso sozinho

🌟 Conclusão: O sofrimento adolescente não é exagero — é um pedido de ajuda

Este estudo mostra com clareza: tristeza, pânico, medo e esgotamento não são frescura. São sintomas reais.

E mais: são sintomas com causas concretas — e com caminhos de enfrentamento possíveis.

A melhor resposta que podemos dar — como pais, educadores, sociedade — é parar de minimizar e começar a compreender. Porque quando um adolescente se sente visto, ouvido e apoiado, ele não se apaga. Ele floresce.


📚 Referência científica

Bi, X., Liu, Z., Su, W., Ou, K., Cui, H., Gao, T., Shi, K., & Ma, Y. (2025).
Exploring the relationship between negative life events and emotional symptoms in adolescents using a network analysis.
Scientific Reports (Nature), 15:16307
https://doi.org/10.1038/s41598-025-00044-z


Aviso importante

Este conteúdo é informativo. Se você ou alguém próximo está enfrentando sofrimento emocional, procure ajuda profissional. Psicólogos, terapeutas e médicos são aliados fundamentais. Conhecimento é um bom começo — mas cuidado exige presença.

Image placeholder

Lorem ipsum amet elit morbi dolor tortor. Vivamus eget mollis nostra ullam corper. Pharetra torquent auctor metus felis nibh velit. Natoque tellus semper taciti nostra. Semper pharetra montes habitant congue integer magnis.

Deixe um comentário

Live More Live Better